Watchmen: Munição Para Moore?



Crítica


Watchmen – O Filme” chega com a proposta de levar os filmes de super-heróis a um novo patamar. Assim como na graphic novel, a proposta do longa é mostrar que existe vida inteligente no universo dos quadrinhos. Mais que isso, é colocar tudo nas tonalidades de cinza, ou seja, não existe certo e errado e sim o que eu devo ou não fazer em determinado momento. Saem de cena os heróis certinhos e entram os que são humanos e erram, de propósito ou não. Isso, o filme de Zack Snyder consegue fazer. Seguindo a mesma idéia proposta por Alan Moore em sua obra, ele deixa a pergunta: “Quem está do lado correto, afinal?”
Desde o início “Watchmen” agrada por ter um roteiro bem conduzido. A opção de contar a trajetória dos Minutemen (os heróis de uma era de ouro) logo nos primeiros cortes e de maneira condensada deixou espaço para trabalhar a trama central. Não se trata de um filme frenético, mas também não há momentos de lentidão exaustiva. Quem ficar com sono no cinema vai ter outros motivos para isso. Fica claro, no entanto o esforço para reduzir o tamanho final do longa. Executivos da Warner Bros. exigiram que cerca de 40 minutos fossem retirados do material de campo. Momentos como a morte de Hollis Mason, a visita de Jon à antiga base e um passeio mais longo por Marte vão ficar para a versão do diretor (que deve ser lançada nos cinemas em julho). Felizmente a condução da história não foi prejudicada.


Os efeitos visuais são muito bons e convincentes. Não há falhas nítidas no trabalho de computação gráfica, exceto por breves momentos durante o voo do dirigível do Coruja, da aparição do felino Bubastis e de uma vista aérea da área destruída de Nova Iorque. Aliado a esse ponto, o figurino é extremamente bem elaborado. Apesar de os uniformes serem diferentes dos propostos na HQ, eles parecem bem aplicáveis ao trabalho de um vigilante. As roupas em geral também convencem ao retratarem com fidelidade as diversas épocas, em especial os exageros sutis dos anos 1980. Outra ajuda importante são as bem coreografadas cenas de luta, que ganharam nas telas uma extensão maior que a dos quadrinhos, exatamente pelo apelo visual que tais sequencias contém. Na invasão da penitenciária, por exemplo, os heróis precisam se defender de mais criminosos que na HQ. Essa sequência consegue até destacar melhor o prazer que Coruja e Espectral têm em vestir os uniformes novamente e como isso apimenta a relação dos dois.


A trilha sonora é primorosa. “Watchmen” leva o espectador para um passeio gostoso pelas décadas passadas com músicas famosas daqueles tempos, como as de Simon & Garfunkel, Jimi Hendrix e Janis Joplin. A escolha das canções consegue escapar do lugar comum sem olhar apenas para os antigos hits, mas também para composições menos conhecidas. A única ressalva é para a música usada no momento em que Daniel Dreiberg retoma a potência sexual após voltar a vestir a roupa de guerra. Colocar “Hallelujah” ao fundo não cai bem. Uma música religiosa para um momento de sexo é, no mínimo, inconveniente. Melhor seria ter usado a sugestão da HQ e conduzir “You Are My Thrill”, de Billie Holiday.


Dan e Laurel, Coruja e Espectral

Atenção: Spoilers mínimos a partir desse ponto.

Para o público em geral, “Watchmen” vai agradar muito. Mas para quem é um fã, reclamações vão surgir. Alguns diálogos foram gravados em locais diferentes dos inicialmente propostos. Exemplo é o sermão que o Coruja dá em Rorschach sobre o jeito que este trata as pessoas e sobre como é difícil ser amigo do mesmo. A cena acontece na oficina do Coruja e não na nave, sob o lago, como no original. Não é Dan Dreiberg quem avisa Veid do assassinato do Comediante e sim Rorschach. Este por sua vez, não vai atrás de seu uniforme reserva depois que sai da cadeia, como o faz na HQ. Ao contrário, na telona Rorschach prefere buscar o que foi confiscado, uma opção feliz que dá dinamismo ao filme e acaba por propor um reencontro interessante com o psiquiatra da prisão (Que aliás, não se demitiu depois de entrevistar o maluco ruivo). Laurel, a Espectral II não fuma, a identidade do Coruja não é revelada, não há jardim na Antártida, Rorschach e Coruja chegam à pé na fortaleza de Veidt... Esses e outros pequenos ajustes não interferem muito na adaptação. Mas um em especial pode causar furor.
Zack Snyder não quis usar a lula gigante clonada no plano malévolo do vilão. O diretor também não quis fazer citações a alienígenas. Isso lhe causou um problema, já que ele resolveu inventar uma parceria entre Ozymandias e o Dr. Manhattan para desenvolver a tecnologia do teletransporte, ao invés de usar as mentes mais criativas da América. Manhattan também foi injustamente implicado de forma importante nos acontecimentos que levam à paz mundial. Se a proposta era evitar o uso do monstro e da citação direta de Ozymandias aos aliens, seria melhor permanecer sem a tal parceria com o Dr. e deixar que a suposição de repórteres mais conspiratórios levantasse a hipótese sensacionalista de um ataque de outro planeta. A versão de Snyder é mais elaborada para o cinema, mas vai dar munição a Alan Moore em seus frequentes ataques a Hollywood.
Quem não leu a HQ deve ficar satisfeito ao assistir a “Watchmen”. Quem leu certamente vai reclamar um pouco, mas ainda assim deve gostar. A somatória dos elementos pode dar uma boa bilheteria para o longa. Contando com isso, a aposta do BHQ+ é de que os executivos da Warner Bros. estão apenas esperando o balanço financeiro para oferecer a Zack Snyder outra jóia da DC Comics: o Superman.

Nota do Crítico: Q Q Q Q Q

Nota do Fã: + + + + +

1 comentários:

    A verdade é que se Snyder estiver mesmo na fila para dirigir Superman (e dizem que ele está na lista de substituição de Nolan caso esse saia de Batman) o "visionário" ainda deve enfrentar J.J. Abrams e McG, já que os vindouros Star Trek e Terminator: Salvation parecem candidatos a mega-sucessos de 2009.

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